Muitos educadores encontram a profissão de professor em uma segunda graduação. Complementam sua prática docente com uma segunda atividade. Alguns deles dão aula em regiões com alta vulnerabilidade e enfrentam realidades desafiadoras e muitas vezes se sentem despreparados para garantir o aprendizagem nesses contextos. Tem boas ideias, mas não sentem apoio da institucionalidade para implementá-las.
Alguns professores encontram a profissão no caminho e percebem os desafios da profissão na prática. Muitas vezes sentem a impotência ao olhar os desafios sistêmicos da educação, mas contribuem se formando e estudando para tornar sua prática cada vez melhor.
Professores como Luiza e como Lorena entendem que ensinar é uma técnica que pode ser aprendida. No caso da Luiza, baseado em projetos, no caso da Lorena com disciplina e rigorosidade. O que foi contundente neste pedaço da pesquisa foi comprovar mais uma vez que ser professor é uma arte e ciência ao mesmo tempo.Isso quer dizer que a profissão de professor é uma ciência com processos claros e definidos, assim como uma arte que precisa fluir entendendo as características do contexto e alunos.
Formada em pedagogia em 2016, Flávia ingressou na rede pública há dois anos e acredita no afeto e na construção de uma identificação com os alunos como forma de motivá-los a se engajar nos processos de aprendizagem. Ela cuida da forma como se veste e da maneira como fala para que seja o mais próximo possível da realidade dos alunos. Trabalha com meditação em sala de aula, construiu um cantinho da leitura para os alunos e tenta identificar e valorizar os talentos e interesses individuais de cada um. “Eu ganho no amor e na conversa”, diz. Flávia acredita que uma das grandes dificuldades que enfrenta é fazer com o que os pais participem e também se engajem com a educação dos filhos.
Acredita que na escola pública tem liberdade para este tipo de iniciativa e pode desenvolver um trabalho de maior autonomia e liberdade do que seria possível na escola privada. Também acredita que a remuneração nas escolas públicas não é tão ruim assim e está muito satisfeita com o trabalho.
Flávia veio de uma família de professores, assim como muitos que escolhem essa carreira. Eles entendem o poder transformador da Educação porque desde crianças ouviram falar que não têm outra forma de mudar o mundo senão pela educação. Como entendem a Educação como uma causa, são muitas vezes vistos como românticos.
Professores como Flávia não sabem ser exclusivamente conteudistas. “Você não vai mudar a realidade desse jeito”, falam para ela. Mas ela é firme em sua reposta: “Vou. Porque uma hora eles vão ter gosto por estudar. Eles vão ter vontade de estudar. Eu incentivo muito a leitura, porque eu acho que é transformadora.”
Alguns colegas acreditam que Flávia está vivendo a empolgação do início do magistério e que esta dedicação tende a diminuir com o tempo. Porém, ela pensa que os retornos que recebe dos alunos a alimentam e que deve continuar com esse trabalho.
Parte dos professores se paralisam, outros tantos buscam maneiras de dar conta dos desafios que ultrapassam as responsabilidades do profissional docente. O aprendizado fica no pêndulo entre paralisia e movimento.
Dos vários questionamentos e reflexões que os encontros trouxeram, um dos que mais chamou atenção foi que muitos professores se sentem tão sozinhos quanto impotentes para exercer o grande propósito da sua profissão: ser um agente de transformação. Seu olhar sobre a Educação navega entre o prazer de ensinar e a frustração de não conseguir fazer os alunos aprenderem. Muitos sentem o peso de serem vistos como os únicos responsáveis por transformar a realidade das comunidades em que atuam, sentindo-se expostos e até vulneráveis com o desafio. Assim, a solidão também surge da falta de um ambiente que facilite o diálogo e a colaboração entre os colegas, para troca de experiências e construção de um projeto comum de educação ou para simplesmente desabafar com quem conhece de perto o dia a dia da escola.
A ausência de espaços de diálogo e ambiente de debate também foi identificada na netnografia, metodologia utilizada para acompanharmos o comportamento dos docentes no ambiente digital. Apesar da presença de inúmeros grupos destinados a profissionais da Educação, a maioria das páginas observadas na pesquisa se estruturam como um repositório de notícias relacionadas ao universo da Educação e há um esvaziamento das discussões na maioria deles.
A falta de entrelace ou tecido organizacional entre os profissionais da educação é uma constante em todas as falas. Eles não se sentem parte de um time, o sistema exige deles soluções simples, porém a complexidade pode ser paralisante. Foi percebido uma desintegração entre o modelo de mundo atual e a modelo educacional; entre a concepção conteudista de educação e a sociedade da informação em que vivemos; entre a produção acadêmica do campo da pedagogia de elite e a realidade diária nas salas de aula brasileiras; entre a formação do professor e a prática de sala de aula; entre o discurso sobre o que deve ser a educação para o século 21 e a prática diária da educação nas escolas; entre o perfil “ideal” de professor e o professor real.
Todos os professores que participaram da pesquisa se orgulham do seu percurso pessoal e profissional. Valorizam a família e os outros grupos que pertencem por serem espaços fundamentais de acolhimento depois da complexidade diária que enfrentam dentro da sala de aula.
Encontram motivação no reconhecimento do seu trabalho por parte dos pais dos alunos e das diretivas das escolas, e se sentem preocupados quando não conseguem ensinar corretamente.