Caso 14: Vestígios do tempo

Professor: Lilian Mara Bonette Bianchini
Quem é o professor: Formada em pedagogia, com especialização em gestão escolar e psicopedagogia, leciona na rede municipal há 24 anos e na escola há 15 anos. Foi destaque estadual do Paraná, na etapa dos anos iniciais do ensino fundamental (4º e 5º anos), na 10ª edição do Prêmio Professores do Brasil.

Escola: EMEF Maria Aparecida Medeiros
Municipio: Engenheiro Beltrão
UF: Paraná
Etapa de ensino: Ensino Fundamental – Anos Iniciais

Ano: 2017
Área de conhecimento: Ciências Humanas
Componente curricular: História

Vestígios do Tempo

Em estudos do meio para explorar riqueza arqueológica da região, professora estimula alunos a colher dados e registrar experiências sobre a cultura indígena seguindo marcas do ‘Caminho de Peabiru’

Lilian Mara Bonette Bianchini, de 41 anos, professora de uma escola municipal de Engenheiro Beltrão, no noroeste do Paraná, desenvolveu as suas aulas de 2017 com estudantes de 4º e 5º anos para trabalhar a história da colonização do Estado e do Brasil valorizando a cultura indígena e os vestígios dos povos pré-colombianos, presentes regionalmente.

O projeto “Viajando pelos caminhos da nossa história” foi orientado para estimular os alunos a levantarem informações para formularem ideias que resgatassem os valores dos primeiros “donos” daquelas terras, compartilhando as vivências de forma a produzir o entendimento da realidade em que estavam inseridos.

Após diagnosticar nas primeiras aulas que os estudantes tinham visão estereotipada dos indígenas, a professora Lilian costurou uma proposta para ampliar o conhecimento deles, fazendo-os enxergar “que não só os europeus ajudaram a formar nossa cultura”.

Ao definir os conteúdos, decidiu que se aprofundaria na temática explicando o povoamento do território por meio das marcas históricas deixadas no município e na região durante os deslocamentos pelo “Caminho de Peabiru”, itinerário aberto pelas antigas civilizações que corta o continente ligando os oceanos Pacífico e Atlântico. Um ramal desta rota milenar passa pelo perímetro da cidade paranaense.

“Pesquisei bastante para saber como direcioná-los. Preparei imagens dos povos primitivos, os tipos de materiais que eles produziram e despertei a curiosidade dos alunos levando uma mala antiga para a sala de aula. Deixei que adivinhassem o que tinha dentro dela e quiseram ver”, relata a professora. “Eu tinha levado objetos fabricados pelos indígenas, como lâminas de machado e mão de pilão. Expliquei que não eram pedras comuns, mas vestígios líticos, pedras de milhares de anos.”

A mala antiga virou símbolo das “viagens” pela história de Engenheiro Beltrão, Fênix, Peabiru, entre outros municípios daquela parte do Brasil, próxima à fronteira com o Paraguai. Com o apoio da direção da escola, que produziu protótipos da mala para serem usados pelas quatro turmas que assistiam às aulas da professora, Lilian pôs dentro de cada maleta um caderno para registro das experiências durante o projeto.

O aluno a levava para casa com a orientação que escrevesse no caderno o que havia aprendido, compartilhando as histórias com a família. Feito o relato, a mala com o caderno voltava para a sala e seguia às mãos e à morada de outro integrante da turma.

“Os relatos eram emocionantes de se ler. Contavam nos detalhes o que a criança tinha aprendido. A família e a comunidade escolar aprenderam juntos. Todo mundo se envolveu”, diz a professora. “Esse tema não é explorado localmente, nem todas as pessoas têm acesso a esse conhecimento (da cultura indígena da região).”

Os cadernos das malas foram preenchidos com pequenos relatos baseados, principalmente, nas visitas pedagógicas realizadas. As turmas conheceram, por exemplo, um museu com peças e artefatos líticos na vizinha Peabiru e fizeram uma trilha em uma antiga vila fundada pelos espanhóis antes da chegada dos portugueses.

Nos estudos do meio, os alunos faziam perguntas de acordo com a curiosidade que brotava daqueles momentos e registravam as experiências no caderno. Na visita ao distrito de Ivailândia, que abriga marcas dos antigos habitantes, entrevistaram moradoras pioneiras do local e ouviram histórias sobre achados arqueológicos.

“Conforme eles iam pesquisando, aprendiam termos históricos, reuniam informações e exploravam o município”, conta a professora. “Não tinha questionário preparado, mas eles questionavam muito quando faziam a pesquisa de campo.”

Para esclarecer as dúvidas que surgiam, a professora entrou em contato com uma arqueóloga do Museu Paranaense, que enviou artigos sobre a temática. O material deu base a slides e um vídeo apresentados em sala de aula. Também na escola, os estudantes receberam a visita do filho de um dos precursores da cidade e ouviram as memórias dele sobre as peças de rocha e cerâmica que o pai colecionava.

“No caderno de história, de sala (de aula), eles também faziam pequenos relatos do momento da pesquisa, do estudo que fizemos. Tinham capacidade de registrar, de escrever”, diz Lilian.

O projeto foi finalizado em dois atos com protagonismo dos estudantes. Dentro da escola, ocorreu uma aula em que as turmas organizaram uma mostra e expuseram, às famílias, histórias de peças arqueológicas emprestadas. Fora do ambiente escolar, junto com a professora, os estudantes ajudaram a convidar as comunidades locais para uma caminhada ecoturística por trilhas relacionadas ao resgate histórico que realizaram.

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support