Caso 23: Protagonismo na tela do cinema

Professor: Jayse Antonio da Silva Ferreira
Quem é o professor: Formado em artes visuais, leciona na rede estadual há 10 anos e há 7 anos na escola. Foi o vencedor em Pernambuco, na etapa do ensino médio, na 10ª edição do Prêmio Professores do Brasil.

Escola: Escola de Referência em Ensino Médio Frei Orlando
Municipio: Itambé
UF: Pernambuco
Etapa de ensino: Ensino Médio

Ano: 2016 e 2017
Área de conhecimento: Linguagens
Componente curricular: Arte

Protagonismo na tela do cinema

Professor de Pernambuco incentiva estudantes a construírem curtas-metragens e turmas aprendem a driblar dificuldades de produção e a lidar com comentários preconceituosos na internet

Como não há cinema em Itambé, pequena cidade da divisa de Pernambuco com a Paraíba, a escola em que leciona o professor de Arte Jayse Antonio da Silva Ferreira, de 37 anos, costuma organizar excursões para assistir a um filme na telona de um shopping center de João Pessoa. Após uma delas, em 2016, uma turma do 2º ano do ensino médio voltou da experiência motivada para atividades ligadas ao audiovisual.

Foi a oportunidade para Jayse estruturar um projeto por meio da comunicação cinematográfica para produzir conhecimentos e abrir caminho para que o estudante assumisse o protagonismo de suas aulas. O projeto “Vamos enCURTAr essa história?” nasceu com a proposta de os alunos produzirem curtas-metragens a partir dos próprios referenciais. “Pedi algo que tinha a ver com a realidade deles”, diz Jayse.

Inicialmente, a turma se mobilizou em torno de uma releitura da série “Harry Potter”. O professor orientou as atividades em grupo e pediu que escrevessem novos finais para a saga. Durante as aulas, trabalhou a parte teórica e introduziu conceitos de enquadramento, iluminação, construção do roteiro e dos personagens. O curta era gravado na área externa da escola, em geral depois das aulas.

Como os smartphones que filmavam não captavam os áudios adequadamente, o filme teve que ser dublado: os estudantes gravaram as próprias falas, depois sincronizadas com as imagens. Para o figurino, os jovens foram a campo pedir roupas emprestadas no comércio local e também mobilizaram os pais para apoiar a prática.

“Eles tiveram que lidar com dificuldades e muito improviso para executar os roteiros. As famílias se envolveram nas filmagens”, afirma o professor.

Quando ficou pronto, o curta “Harry Potter, o recomeço” foi veiculado no canal de um dos estudantes no YouTube e chamou a atenção do fã-clube da saga no Brasil. “Compartilharam o vídeo na página do fã-clube no Facebook e, em poucos dias, teve 20 mil visualizações”, lembra Jayse.

Ao tornar-se um viral nas redes, o primeiro filme fez o projeto tomar corpo. Outras turmas do ensino médio pediram para participar e as atividades tiveram que se expandir para alcançar um número maior de alunos. Por outro lado, Jayse observou que comentários jocosos, típicos de “haters”, atingiram alguns de seus estudantes, que se chatearam com referências ao sotaque nordestino da produção.

As falas preconceituosas da web motivaram o professor a propor reflexões filosóficas em sala de aula sobre discriminação, preconceito e racismo. Também nortearam princípios de inclusão para as produções seguintes, que contaram com participações de um aluno surdo e uma estudante com vitiligo, doença dermatológica autoimune.

“Eram centenas de comentários e a maioria, positivo. Como senti que alguns ficaram chateados, colei os comentários falando do sotaque, montei slides e os levei para a sala de aula. Fiz refletirem do porquê dos comentários, mostrei que muitos artistas já tinham sofrido preconceito por serem nordestinos, como o Chico Anysio e o Didi (Renato Aragão), e superaram isso”, afirma Jayse.

Na continuidade, os estudantes realizaram uma adaptação do game Minecraft, cheia de efeitos especiais produzidos com a ajuda de um aluno que passou a trabalhar em uma empresa com cursos nessa área. No terceiro curta, o professor passou a orientar um trabalho autoral dos jovens e, nessa fase, pediu ajuda de egressos da escola para oficinas de dinâmica corporal e de um escritor da cidade para aulas de roteiro.

Para nortear a produção autoral, Jayse pediu que os estudantes escrevessem histórias com referências à escola e a um tema social. “Quando vi que já estavam maduros, incentivei a fazer um curta autoral. Tinha que valorizar a nossa cultura, ter uma problemática social e falar da cidade e da escola”, conta o professor. “Foram 40 contos e o escritor da cidade nos ajudou a escolher o melhor texto para um filme.”

O suspense “Entre dois lados” reproduziu a história de cinco alunos que se embriagavam e depois batiam o carro, em acidente que provocou a morte de uma funcionária da escola. O filme tem 17 minutos e, como parte da produção, os jovens colheram o depoimento de um morador de Itambé que perdeu a perna após um acidente em que dirigia sob efeito de bebida alcoólica.

Os curtas receberam, na pós-produção, legendas em inglês e espanhol para que amigos estrangeiros dos estudantes pudessem entender os diálogos.

O envolvimento das famílias e dos moradores de Itambé culminou com a exibição dos curtas-metragens do projeto na praça central do município para cerca de 250 pessoas, após a montagem de um cinema a céu aberto no local. “Foi a primeira vez que a cidade teve cinema de graça na rua. A sessão lotou”, diz Jayse.

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