Educação

Desafios da Profissão Docente: 4 aprendizados que podemos colocar em prática agora

Participantes do Webinar “Os Desafios da Profissão Docente”

Os desafios da profissão docente e possíveis soluções foram abordados no último dia 11 de agosto, em um webinar promovido pelo Instituto Península, Instituto Ayrton Senna, Fundação Santillana e o Movimento Profissão Docente. O encontro marcou o lançamento do novo livro Desafios da Profissão Docente, escrito pelo Fernando Abrucio e Catarina Segatto, professores da FGV-Eaesp. Para debater o tema, foram convidados o pesquisador e especialista no assunto Michael Fullan e o professor Mozart Neves, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto.

Abaixo, confira os principais destaques do evento. Para assistir na íntegra, acesse o YouTube do Instituto Península. Além disso, a obra está disponível para download gratuito na seção de Publicações do nosso site.

#1 Buscar inspiração é preciso e adaptá-la é fundamental

Um dos caminhos para solucionar os desafios urgentes da profissão docente é reconhecer boas práticas ao redor do mundo. Nesse sentido, Fullan – que é referência mundial em reforma educacional – contribuiu trazendo exemplos de sua atuação em cinco mil escolas no Canadá, seu país de origem, e no Uruguai, onde há dez anos auxilia o desenvolvimento de trabalhos em mais de 700 escolas.

Ele ressalta que buscar inspiração em outros países, no entanto, não significa replicar exatamente o modelo. “Se você começar hoje (a promover uma reforma educacional), não precisará fazer todas as mesmas coisas que fizemos ao longo dos anos. É possível aplicar os conceitos principais propostos e pular algumas etapas, acelerando as mudanças. O importante é entender a política em prática, não necessariamente a política no papel”, diz Fullan. E completa: “O contexto em que se está operando é tudo.”

#2 Cuidado com comparações

Para Abrucio, Fullan foi uma das inspirações teóricas do livro Desafios da Profissão Docente, que traz exemplos de fora do país com o cuidado de analisar também o histórico de formação de professores no Brasil. “Vemos os exemplos de fora do país e nos inspiramos neles, mas é preciso evitar a comparação com a realidade brasileira. É necessário entender que temos momentos históricos diferentes. A Educação no Brasil veio mais tarde, bem como a carreira docente e a institucionalidade das escolas, que são mais frágeis aqui do que no Canadá, por exemplo”, pontua Abrucio.

#3 Colaboração é chave para implementação das reformas sistêmicas

No livro Professional Capital, exemplo recorrente na palestra do dia 11 de agosto como referência para encontrar caminhos na implementação das reformas, Fullan aborda como indivíduos em desenvolvimento contínuo (professores, diretores, gestores), que querem fazer a diferença, organizam-se em culturas colaborativas para melhorar a qualidade de todo o grupo. No caso das escolas e das redes, é preciso criar um senso de responsabilização interna em toda a comunidade escolar, sem julgamentos, com confiança e interação constante entre todos os envolvidos – professores, gestores escolares, funcionários das escolas, alunos, familiares e até mesmo entre outras escolas. “Culturas colaborativas desenvolvem unidade de propósito e soluções específicas. Os grupos melhoram por uma ‘eficácia coletiva’, sua capacidade conjunta de produzir resultados. Na escola, queremos pensar em colaboração, conexão, liberação e apoio aos professores”, afirma Fullan.

Abrucio lembra que, no Brasil, ainda existe uma visão muito individualizada da profissão docente e não coletiva, que requer trabalho colaborativo entre pares: “Ou o professor é tido como herói ou é tido como vilão. De qualquer forma, nesse pensamento, ele está sozinho para ensinar os alunos. Precisamos fortalecer a visão de trabalho coletivo dos professores com os demais envolvidos na comunidade, pois eles precisam de apoio.”

Mesmo em um contexto pandêmico como o brasileiro, de crescente evasão e abandono escolar após três semestres de escolas fechadas, Fullan acredita que podem vir boas mudanças transformações sistêmicas em prol de uma carreira docente mais adequada para os desafios contemporâneos, desde que ocorra a mudança de mindset voltada para a colaboração. “O foco agora não pode ser na perda, mas em como podemos reerguer as pessoas de volta para o ponto de partida, descobrir como professores podem aprender uns com os outros, como líderes escolares podem fazer parte dessa equação e como escolas podem aprender umas com as outras”, sugere.

#4 Temos que repensar a formação inicial

Se é na prática – ou seja, dando aulas – que os professores aprendem mais sobre o ofício, Fullan propõe que ela esteja presente na universidade, o ambiente formal de ensino da profissão docente. Neves concorda e complementa: “A Universidade é conservadora no Brasil e é difícil sensibilizá-la para mudar a estrutura de formação do professor. Mesmo sendo verdade que a prática na escola ajuda, nossa formação acadêmica é muito teórica e pouco prática. Buscamos incentivar a formação prática dos professores, porque o campo pedagógico não dialoga com as licenciaturas e com os institutos que formam os professores. Há um distanciamento entre o campo pedagógico e o campo específico no país. O professor formado pela Universidade sai muito distante da realidade – desde o alfabetizador até o professor do ensino médio.”

Segundo Abrucio, uma transformação assim no currículo das universidades impactaria não só o processo de admissão de professores como toda a profissão, e ainda ajudaria a desenvolver múltiplas competências necessárias aos educadores para atender aos desafios do século 21 – transformando-os em profissionais mais colaborativos, que constroem relações de confiança, desenvolvem a motivação dos alunos e pensam a pedagogia do “Deep Learning”, adequada ao nosso tempo.

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