Pesquisas

Indicador de Valorização de Professores – IVP

Ferramenta pioneira no Brasil tem o objetivo de medir como sociedade e professores valorizam a profissão e mostra que os docentes são mais críticos com relação ao reconhecimento da carreira

A primeira edição do Indicador de Valorização de Professores (IVP), ferramenta inédita no Brasil lançada pelo Instituto Península e desenvolvido em parceria com a pesquisadora e cofundadora da Rede Conhecimento Social, Ana Lima, para medir como a sociedade e os próprios professores da Educação Básica valorizam a profissão, revela que apenas 26% dos brasileiros acreditam que os professores são bem valorizados no país, enquanto somente 20% dos docentes têm essa percepção. Os dados apontam ainda que um em cada três brasileiros (36%) percebe que a carreira docente é pouco valorizada – a mesma percepção de 18% dos professores.

Para chegar a essas informações, o Indicador de Valorização de Professores mediu cinco esferas: o Campo de Atuação, que engloba o reconhecimento do valor e da relevância da Educação Básica para o Brasil e para os brasileiros; a Carreira – remuneração e condições de trabalho; o Ambiente de Trabalho, que se refere às relações na escola com gestores, pares, estudantes e famílias; o Profissional, que diz respeito ao compromisso e a competência do professor em sua atuação; e o Indivíduo, incluindo o bem-estar e a realização pessoal fora do ambiente de trabalho.

Ao consolidar essas esferas, o IVP aponta que, em uma escala de 0 a 10 – sendo baixa valorização abaixo de 6, média valorização entre 6 e 8, e alta valorização igual ou maior que 8 –, a média de valorização do professor é de 6,7 pela sociedade e de 7 pela ótica dos profissionais. “O indicador revela que tanto professores quanto população tem uma percepção a respeito da valorização docente semelhante, ambos compreendem que a profissão é medianamente valorizada. Porém, quando estão inseridos em cenários de pouca competitividade, ou seja, em regiões afastadas de grandes centros e entre população de menor renda e menor escolaridade, o que reduz a base comparativa entre diferentes realidades da carreira docente, ambos tendem a sinalizar maior valorização”, avalia Heloisa Morel.

Na análise individual de cada esfera, também na mesma escala de 0 a 10, chama a atenção o Ambiente de Trabalho, categoriamenos valorizada pela sociedade (média 4,58), mas que, por outro lado, é aquela que os professores mais valorizam (8,2). “Essa diferença demonstra que os professores prezam pelo apoio recebido de gestores e colegas e se sentem respeitados pelos estudantes e suas famílias, o que não é percebido pela população que não está integralmente inserida no ambiente escolar”, pondera a diretora executiva do Instituto Península.

Por outro lado, os professores são mais críticos com Carreira (nota 5,2) do que a sociedade (6,22), bem como com Campo de Atuação (6,8 média do professor e 7,49 da sociedade) e Profissional (professores avaliam em 7,2, e sociedade, em 7,56). No campo Indivíduo os docentes têm a percepção similar a da sociedade,  7,6, e 7,66 respectivamente..

“Muitos professores se sentem valorizados pela satisfação de acompanharem o processo de aprendizagem dos alunos. Por outro lado, ainda há muito a ser desenvolvido e conquistado no campo de políticas públicas docentes, como por exemplo, políticas que apoiem uma carreira mais estruturada voltada também para as condições de trabalho, que ainda são uma queixa importante desses profissionais. Isso impacta na percepção que os professores têm a respeito da valorização de sua profissão. Para nós do Instituto Península é imprescindível que governo e todos os demais atores da sociedade, valorizem essa profissão, tão importante para alcançarmos uma educação de qualidade e, enfim, possamos dar um passo à frente, como país, para diminuirmos as desigualdades e ofertarmos oportunidades a todos os brasileiros”, diz Heloisa.

O que o IVP observa?

O indicador foi desenvolvido para ser uma ferramenta prática e que possa ser aplicada a diferentes públicos, além de ser adaptável às principais mudanças da carreira. O objetivo é que o levantamento seja realizado periodicamente a fim de permitir comparação ao longo do tempo. “Com base nos dados, nosso objetivo é compreender os avanços e a percepção em relação à valorização dos professores e de sua profissão, por parte da sociedade e dos próprios docentes,” ressalta Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península.

A principal conclusão do levantamento é que a percepção da população sobre a realidade de vida dos professores varia significativamente conforme o contexto em que vive, sendo mais positiva entre as pessoas menos escolarizadas e com menor renda – especialmente as que vivem em cidades de menor porte e nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste do país.

A diretora executiva do Instituto Península explica que, para esse grupo, os professores são percebidos como pessoas que detêm saberes reconhecidos, atuam em condições de trabalho formal, com acesso a uma renda estável, perspectivas de avanço em suas carreiras e de garantias de renda mesmo após deixarem a atividade – condições que, teoricamente, são menos acessíveis para essa parcela da sociedade. “Por outro lado, para aqueles com maior escolaridade e renda, a percepção tende a ser mais crítica, principalmente porque os aspectos econômicos da profissão e do ambiente de trabalho não parecem ser atrativos se comparados à realidade em que vivem”, acrescenta Heloisa Morel.

Entre os professores, conclui a pesquisa, as percepções também variam entre diferentes segmentos, principalmente pelas etapas de ensino em que atuam. A valorização é mais positiva pelo ponto de vista daqueles mais novos na carreira, que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental e especialmente aqueles que vivem em cidades de menor porte e nas regiões Norte e Nordeste do país. Já os profissionais que lecionam nos anos finais do ensino fundamental e/ou no ensino médio, e são veteranos na Educação, são mais críticos quanto à sua valorização.

Metodologia do IVP

Para a composição do IVP foram realizadas duas pesquisas quantitativas, sendo uma com a sociedade e outra com professores, com questionários compostos por perguntas de múltipla escolha. No levantamento com a população, foram ouvidas 2 mil pessoas de forma presencial em junho de 2022, representando a população brasileira de 16 anos ou mais, residente nas 5 regiões do país, em cidades de diferentes proporções demográficas e populacionais (Capital, Região Metropolitana e Interior). Já as entrevistas com professores ocorreram por telefone, entre julho e dezembro de 2022, com 6.775 profissionais com 18 anos ou mais, representando docentes da Educação Básica nas redes públicas estaduais e municipais de ensino, conforme o Censo Escolar do Inep.

No total, foram utilizadas 23 perguntas afirmativas para as entrevistas com a população e 21 para as entrevistas com os professores, com as seguintes opções de resposta: “Discordo Totalmente”, “Discordo em parte”, “Concordo em parte” e “Concordo totalmente”, com possibilidade de registro da resposta espontânea “Não Concordo nem Discordo”.

Ambas as pesquisas foram realizadas pelo Instituto Península em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC), responsável também pelas análises estatísticas que definiram o modelo de cálculo do indicador. Já a pesquisa com professoras e professores também foi idealizada pelo Instituto Península, com os parceiros Todos pela Educação e a Fundação Itaú Social.

Clique aqui para acessar os dados da pesquisa.

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